segunda-feira, 11 de julho de 2011

convencimento

tento convencer-me: palavras são só palavras e mesmo palavras que dilaceram são só palavras que dilaceram. mas fica a marca no coração magoado. pois fica. mas é uma marca de palavras. e palavras são só palavras, pois são?

sábado, 9 de julho de 2011

mina

quando se percebe que nem a morte é uma saída, começa a viver-se uma condenação à vida. é um processo penoso e perpétuo, sem escapatória nem absolvição. uma pessoa descobre que todos os dias há-de acordar, com sol ou com chuva, doente ou saudável, sozinho ou acompanhado, mas que essas circunstâncias pouco ou nada importam porque o que unicamente importa é que nasceu mais um dia e ele terá que ser irremediavelmente vivido. o que faz do sono – quando ele é possível – o mais parecido com a trégua da morte. mas sim, nem sempre o sono é possível. há noites, e são muitas, em que a vida nos vai buscar ao catre e nos impõe algo muito parecido com a tortura do sono com que as tiranias tentavam quebrantar os prisioneiros mais obstinados. tu és resistente e forte porque aceitas a tua sorte. mas até quando vais aguentar o ferrão da revolta sem soltares o grito? por quanto mais tempo te conseguirás manter nesse torpor obediente, nessa maré vaza de auto-respeito e de vontade? e eis-me chegado a mim: está a minha alma soterrada numa mina funda ou é ela a mina funda?