domingo, 21 de junho de 2009

fuga

a partir de que momento dormir passou a ser a fuga? lembro-me que antes o sono era apenas sono. deitava-me à noite e o cansaço do dia encarregava-se de me cerrar os olhos, sem esforço nem pensamento, um sono funcional, animal, intrínseco. foi assim durante muito tempo, diria quase sempre foi assim. mas a partir de um certo momento, que agora não consigo determinar, o sono foi-se revestindo de uma outra forma, transmutou-se no acto de dormir, como se o estivesse a encenar, o que tinha de natural foi-se esbatendo até à total artificialidade, passei a ser eu a procurar o sono e não o contrário, o sono a procurar-me. as paredes dos labirintos do sono foram como que se enterrando no solo, até desaparecerem por completo, deixando-me numa aridez plana, como se dormisse de olhos abertos. olhando um deserto.

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